segunda-feira, junho 04, 2012


Diante do mar



Costumo me esconder de mim diante do mar, especialmente quando vou para Portugal à minha procura.Estou sempre em Portugal. Nas ruas de Coimbra. Nas igrejas de Coimbra. Nos cafés de Coimbra. A caminhar por Lisboa, olhando a senhora da rua São Nicolau a cozer suas castanhas. Estou diante do mar, sentado com meu guarda-chuva antigo, exatamente eu que gosto que a chuva caia no meu rosto, na minha roupa, nos meus sapatos que procuram rumos inexistentes. Vejo-me no Bairro Alto, em Lisboa, nas casas de fado. Todas as fadistas cantam de olhos fechados, a melhor maneira de ver todas as coisas. Poemas ao som da guitarra portuguesa, aquela declaração de um amor triste, de lágrimas e desesperos. Depois é a madrugada às margens do rio Tejo. Como é a madrugada de Coimbra, às margens do rio Mondego. Vista da ponte de Santa Clara, Coimbra está mergulhada dentro do rio com suas luzes, suas baladas, sua guitarra, o fado de Coimbra que não é fado, é outra coisa que não sei explicar. Depois os amigos, uma noite imensa por viver, as mãos brancas das mulheres, cabelos quase sempre negros, palavras que não precisam ser compreendidas por ninguém. Estou diante do mar, com meu guarda-chuva. É quase certo que adormecerei daqui a pouco. É quase certo que sonharei com setembro. É quase certo que tentarei viver o que me cabe. É quase certo, mas eu não tenho certeza.

domingo, abril 29, 2012


Ministra continua desaparecida



Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, continua desaparecida. Uma das últimas notícias a seu respeito dizia respeito a uma verba no valor de 14 milhões e 400 mil reais que ela autorizou para a construção do “Museu do Trabalho”, a ser construído em São Bernardo do Campo com o objetivo de enaltecer a figura do ex-presidente Lula, hoje chefe do governo paralelo do Brasil. A ministra desaparecida nega que o museu seja um privilégio ao ex-presidente ou ao PT. Na sua última aparição, a ministra disse assim: “Para que serviria o Ministério da Cultura se não para apoiar museus?”. A Assessoria do Ministério da Cultura afirmou que não vê nenhum conflito na doação desse dinheiro. Depois disso, a ministra desapareceu de novo. Mas quase ninguém nota porque, na verdade, o Brasil não tem ministro da Cultura há mais de dez anos. Se por algum acaso alguém vir a ministra Ana de Hollanda em algum lugar, por favor comunicar-se com o Palácio do Planalto e pedir para avisar a presidente Dilma Rousseff. A informação pode ser dada por telefone. O prefixo de Brasília é 61.

domingo, abril 15, 2012

Poeta, pelas coisas que você anda dizendo e escrevendo, você que foi punido pela direita, na ditadura, vai acabar punido também por um governo de esquerda...


De leve...



Tomava vinho nesta madrugada de Outono com um amigo de muitos anos, lembrando das coisas da vida que não valem a pena lembrar. Aproveitamos a ocasião para falar mal de algumas pessoas, conversamos sobre literatura, poesia, jornalismo, essas coisas inúteis que ainda habitam nosso universo.
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Em um certo momento, ao falarmos sobre o Brasil, eu e meu amigo tivemos o seguinte diálogo, exatamente como está descrito abaixo:
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-Poeta, pelas coisas que você anda dizendo e escrevendo, você que foi punido pela direita, na ditadura, vai acabar punido também por um governo de esquerda...
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Eu respondi o seguinte:
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-Governo de esquerda? Aonde ?
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Meu amigo deu uma risadinha constrangida. Não disse nada. Acabamos de tomar o nosso vinho e fomos embora. A madrugada de Outono estava fria pelas roupas que especialmente as mulheres estavam usando. Mas eu nao reparei.

quinta-feira, abril 05, 2012

Eu me refiro à absolvição pelo Superior Tribunal de Justiça absolveu ao homem acusado de estuprar três meninas de 12 anos

Indignação


   Lamento começar a semana com um assunto como este. Acostumou-se a dizer que as decisões da Justiça devem ser cumpridas e não comentadas. Nunca concordei com isso. Nunca. Nem nunca vou concordar. Por que hei de concordar? 
Por um acaso os senhores juízes de nossos tribunais são infalíveis ? Não são. Nunca serão. Eu me refiro à absolvição pelo Superior Tribunal de Justiça absolveu ao homem acusado de estuprar três meninas de 12 anos. O argumento dos senhores juízes do STJ é de arrepiar. Alegaram que não houve violência, já que as meninas de 12 anos, são crianças prostitutas. Crianças que já se prostituíram. Isso não é só uma vergonha. Não é só indignação. Isso é de liquidar qualquer ser humano que ainda consiga pensar neste país vagabundo. Mais uma vez, graças aos senhores ministros do STJ, o Brasil ganhou manchetes internacionais. Essa aberração é ridícula. Além de preconceituosa. Com prostituta pode tudo. Por que é que eu terei de dizer o contrário? Por que a decisão veio dos ministros do STJ? Só se me matarem. Ou me prenderem, o que não é difícil. Então, qualquer um pode comer uma menina de 12 anos que não haverá mais problema. (Desculpem-me a expressão, mas não dá para dizer de outra maneira). Sendo uma menina de 12 anos que é obrigada a se prostituir para viver, pode. Qualquer um pode. O Código Penal brasileiro prevê que relação sexual com menores de 14 anos é crime de estupro. Mas o STJ acha que não. Sendo uma menina de 12 anos já prostituta o crime não existe. Vergonha. Causa indignação, muita indignação. Representantes do Ministério Público e do Governo vão recorrer. O ministro da Justiça declarou que não concorda com essa decisão. Os senadores e deputados que fazem parte da CPI da Violência contra a Mulher aprovaram nota de repúdio contra a decisão do Tribunal. Os membros da CPI vão enviar nota aos ministros do STJ para pedir que o Tribunal reveja sua decisão. Os integrantes da CPI dizem, com absoluta razão, que a decisão representa uma afronta aos direitos fundamentais das crianças, rompe com sua condição de sujeito de direitos e as estigmatiza para o resto de suas vidas. A nota da CPI vai direto para a relatora do caso, Maria Thereza de Assis Moura, uma mulher, dizendo que “ela não relativizaria o princípio da presunção de inocência se tivesse levado em conta a idade precoce com que as meninas se prostituíram. “É impensável que uma criança de 12 anos ou menos  possa nela ter ingressado voluntariamente. Esquece-se a ministra Maria Thereza que a prostituição de jovens no Brasil é fruto da violência, da exploração sexual e da sua condição de vulnerabilidade”. Não sei se a presidente Dilma disse alguma coisa a respeito. Mas pelo seu jeito, imagino que deve estar pensando disso. O Governo quer que a Procuradoria-Geral da República recorra. Diante de tanta pressão, inclusive do Congresso Nacional, o senhor presidente do STJ disse que cada caso é um caso e que o Tribunal sempre está aberto para a revisão de seus julgamentos. O STJ adianta que o Tribunal de Justiça de São Paulo já havia inocentado o homem, com argumentos que sangram na miséria deste país. Aí o caso foi para o STJ que confirmou a absolvição. Já a ministra que mais admiro nesse Governo, pelo menos até agora, a de Direitos Humanos, Maria do Rosário, entrou nessa história escabrosa e pedirá a revisão da decisão dos senhores ministros do Superior Tribunal de Justiça. Assim, encaminhará essa solicitação ao Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, e ao Advogado-Geral da União, Luiz Inácio Adams. A ministra Maria do Rosário diz o seguinte: “Entendemos que os Direitos Humanos de crianças e adolescentes jamais podem ser relativizados. Com essa sentença, um homem foi inocentado da acusação de três vulneráveis, o que na prática significa impunidade para um dos crimes mais graves cometidos contra a sociedade brasileira. Esta decisão abre um precedente que fragiliza pais, mães e todos aqueles que lutam para cuidar de nossas crianças e adolescentes”. Por fim, a ministra que admiro, observa: “Consideramos inaceitável que as própria vítimas sejam responsabilizadas pela situação de vulnerabilidade que se encontram”. Na verdade, isso tudo não causa somente indignação. Não. Causa nojo também.


domingo, março 25, 2012

Então Ana continuará como ministra, mas ninguém sabe que ela é ministra.

Cultura


         A presidente Dilma Rousseff confirmou que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, continuará no seu cargo. PresidentA, como exige a senadora Marta Suplicy. Então Ana continuará como ministra, mas ninguém sabe que ela é ministra. No primeiro ano de Governo da presidentA Dilma, Ana de Hollanda se destacou pela inércia. Não fez absolutamente nada no setor cultural deste país. Faz três dias, a ministra participou de uma cerimônia em Brasília, no Palácio do Planalto, e trocou cinco ou seis palavras com a presidentA Dilma. Depois anunciou-se que a ministra continuará no cargo. Sua única credencial é ser irmã do ex-compositor Chico Buarque de Hollanda, que já parou de compor há muito tempo e passou a escrever livros sofríveis enaltecidos pelo jornalismo cultural sem compromisso com nada. No Brasil é mais ou menos assim: figuras notórias que nada mais têm a fazer na vida viram “escritores”. Em todos os casos, o jornalismo que se diz cultural faz a sua parte. Quando a presidentA cortou verbas do Orçamento para este ano, a ministra nada fez para conseguir um corte menor na sua Pasta. Desde que é ministra, Ana de Hollanda virou notícia duas vezes. Primeiro quando cancelou a nomeação do sociólogo Emir Sader para presidente a Fundação Casa de Rui Barbosa. Sader deu uma entrevista dizendo o que pensa e a ministra não gostou. Então cortou o nome dele. A ministra também foi notícia quando a Controladoria Geral da União determinou que ela devolvesse cinco diárias que ela recebeu indevidamente, quando estava no Rio de Janeiro, sem nenhum compromisso oficial. Então o Brasil segue no seu décimo ano sem ministro da Cultura. Quem manda é a presidentA. O resto que fique calado. Palmas para as duas. O setor cultural brasileiro que vá reclamar ao bispo. Mas pensando bem, se a Bolívia que não tem mar dispõe de um ministro da Marinha, por que é que o Brasil não pode ter ministro da Cultura?

domingo, março 18, 2012

O circo é cheio de manobras. É, na verdade, um circo de horrores, onde vale tudo. Vale especialmente a mentira.

O circo

         O circo já está armado. Mas é um circo sem diversão. Antes, é o circo dos espertos. Os principais personagens do circo já estão tomando seus lugares. Daqui a pouco, um dos donos do circo de sempre virá até o picadeiro e dirá: “Respeitável público, vai começar o espetáculo!”. E quase todos vão aplaudir. Os palhaços, não. Os palhaços que ainda pensam ficarão mais tristes. Mais quietos. Apenas observarão. Eu conheço um palhaço que se chama Álvaro, que costuma marcar zero na maquininha do circo. Marca zero e confirma. É a única maneira que ele encontrou para se defender. O circo é cheio de manobras. É, na verdade, um circo de horrores, onde vale tudo. Vale especialmente a mentira. Quando a gente se desencanta com as coisas é difícil prosseguir. Em política não acredito em ninguém, nem me interessa. Só para dar a idéia do circo deste ano. Vejam bem, isto é sério: O PR poderá lançar o nome de Tiririca como candidato a Prefeitura de São Paulo. Com todo respeito que merece o cidadão Tiririca, não dá para suportar tanto deboche. Como deboche, confesso que até gostei da candidatura dele a deputado federal. Foi eleito pelo deboche do povo. Acho que o povo tem o direito de debochar. O povo tem de debochar mesmo. Mas a coisa foi longe demais. Tiririca hoje faz até parte da Comissão de Cultura e Educação da Câmara.  Mas num país que não tem ministro da Cultura há dez anos está tudo correto. No entanto, agora é demais. O Tiririca poderá ser candidato a prefeito, por conta do PR. Está certo, qualquer cidadão pode ser candidato. Mas irresponsabilidade tem limite. O PR está zombando da inteligência das pessoas usando a figura de alguém que nem sabe ao certo o que é o Congresso Nacional. Eu me sinto cada vez mais um verdadeiro palhaço e me perdoem os palhaços pela comparação. Essa é a política brasileira. E eles falam sério. Assumem uma seriedade que causa náuseas. O circo está armado. Com deboche ou sem deboche, a cidade de São Paulo vai continuar a mesma. Esse beco sem saída. Uma cidade completamente esquecida, suja, insegura. O atual dono do circo só faz manobra política, a cidade está em décimo plano. Quando o desencantamento é sério é difícil seguir em frente. O povo tem de dar o troco. O circo está armado. Isso é próprio de um país que, em um ano, sete ministros foram afastados acusados de corrupção. Os personagens estão quase todos vestidos a caráter. E a platéia está chegando. “Respeitável público, o espetáculo vai começar!”. Como sempre, a maior parte vai aplaudir. Quero de novo lembrar do palhaço chamado Álvaro, que marca zero na maquininha do circo e confirma. Ele sonha que ainda vai ver o circo pegar fogo.