domingo, outubro 30, 2011

A Casa da Rosas, nas mãos do poeta Frederico Barbosa, tornou-se um espaço absolutamente democrático.

Casa das Rosas – Diálogos poéticos


       A noite de poesia, na Casa das Rosas, em São Paulo, torna-se obrigatória na coluna hoje. A Casa da Rosas, nas mãos do poeta Frederico Barbosa, tornou-se um espaço absolutamente democrático. Isso é de importância fundamental, porque este país vive um momento em que muitos dos que estão no poder não gostam de democracia. O Frederico tem levado esse trabalho adiante com convicção e isso implica, também, na questão cultural, especialmente porque este é um país que não tem ministro da Cultura há nove anos. O programa “Diálogos poéticos”, no sábado, com a apresentação do Frederico Barbosa e Marco Antonio (Pezão) foi comigo e com o Raimundo Gadelha, mais a música de Marcelo Ferretti e Gustavo Melo e, ainda, a participação do público, dos que querem ler seus poemas, um momento comovente. Sábado à noite, a Casa das Rosas lotada de gente que vai ouvir e dizer poesia. Chego a ter a impressão de que a poesia ainda vive. Mas o que mais me chamou atenção – e tenho notado isso nas últimas aparições minhas – é a reação das pessoas. As pessoas estão acordando, especialmente vendo este país da mentira, caindo aos pedaços, com ar de primeiro mundo, o país que, por meio de um megalomaníaco, salvou o Haiti de sua miséria, posando para foto na porta de um helicóptero em pleno vôo, vendo lá de cima o país destruído. Foto que, a seguir, foi distribuída ao mundo. O messias também resolveu de vez o conflito milenar que existir entre Israel e os palestinos, com vinte minutos de conversa. E também salvou o mundo da bomba nuclear do Irã com uma conversinha de meia hora. Hoje chefe do governo paralelo, mete-se em tudo. Essa ferida eu vou carregar em mim até o resto da minha vida. Vinte anos de pregação e depois fazer exatamente tudo que se combatia. Gente que trai não apenas a biografia, mas a vida. As pessoas estão acordando. Porque, ao tocar em assuntos assim, as pessoas aplaudem e revelam sua indignação. Como eu disse no sábado à noite, estou cansado de ouvir a Rede Globo de Televisão dizer que o Cazuza é o poeta de uma geração. Estou cansado de ouvir falar do “poeta”  Renato Russo... Estou cansado de ouvir dizer que ex-compositor Chico Buarque de Holanda é escritor. Estou cansado de ver as mentiras literárias do apresentador de televisão Jô Soares que, a cada livrinho, merece várias páginas na revista “Veja”. Estou cansado de ver um jornalismo que se diz cultural que não tem compromisso com nada. Gente inexpressiva. É uma vergonha dar o prêmio Jabuti de poesia para Ferreira Gullar, como se não existissem mais poetas neste país vagabundo. Isso depõe contra o próprio Ferreira Gullar. Estou cansado de tanta mentira. De tanta gente ordinária dando ordens. E ao falar isso, as pessoas revelam o que pensam sob a forma de aplausos. As pessoas estão acordando. As pessoas precisam acordar. As pessoas precisam estar de olhos cada ver mais abertos. A noite de sábado na Casa das Rosas foi mais uma manifestação de resistência em favor da poesia. No final, Frederico Barbosa disse rapidamente um poema seu, definitivo, “Desesxitir”, que a mim me toca profundamente, desde que o li pela primeira vez. Começa assim: “Quando eu desisti/ de me matar/ já era tarde./ Desexistir/ já era um hábito”. Talvez valha deixar aqui um pequeno poema meu que faz parte do meu novo livro meu lançado em Portugal, “Três sentimentos em Idanha e outros poemas portugueses”. Talvez explique melhor tudo aquilo que falei no sábado à noite, explicando porque fugi da poesia brasileira, embora respeite muitos poeta deste país de equívocos. Chama-se “Ponte 25 de Abril”
                                      ***  

            

                   Quando, em setembro,
                   ao atirar-me às águas do Tejo,
                   de cima da ponte 25 de Abril,
                   em meu coração
                   pensava matar-me.
                   .
                   No entanto,
                   passei a respirar melhor
                   e a sonhar
                   todos os sonhos do mundo.                     

3 comentários:

  1. Poeta, ganhei de Ana Merij, um dos seus livros: sua Poesia é plena. Sua voz eco deste Brasil onde cultura ,objeto de descaso.
    Parabéns pelo texto-introdução, por falar deste espaço especial de Sampa -Casa das Rosas, por tudo.
    Valentina Latiffa

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