Crônica paulistana de absoluta inutilidade
Sugestões ao senhor prefeito da cidade de São Paulo:
Ando meio alucinado comigo, mas isso não tem nada a ver. Nada tem a ver. É que estou cansado de ver tanta idiotice na minha frente, nesta cidade limpa de São Paulo. Cidade "limpa" porque o prefeito decidiu tirar as placas de publicidade, os luminosos, tirou tudo da cidade. E disse que a cidade ficou linda, ficou "limpa". O senhor prefeito, dentro de sua insignificância, ainda não percebeu que ele tirou a alma da cidade. Mas o desmando é em tudo. A minha neurose ainda vai acabar comigo. Durante a recente, na marcha da maconha, com o pomposo nome de marcha pela liberdade - ou qualquer coisa assim - eu vi e que os caras da maconha arregimentaram outros setores, entre eles a nova seita dos chamados "cicloativistas". Quer dizer: para chamar os "cicloativistas", um bando que de vez enquanto resolve parar a avenida Paulista à noite, com suas bicicletas, é porque o grupo forma uma seita mesmo. Infelizmente, quando houve mais uma morte de um ciclista, há alguns dias, eles fizeram uma manifestação e caíram em cima do motorista de ônibus, chamando-o de assassino. Então é assim. O motorista do ônibus, um trabalhador, saiu de casa naquela manhã e disse para sua mulher e seus filhos: "Hoje eu vou matar um ciclista". Os "cicloatistas" pensam assim. Uma cidade em que não cabe mais nada, eles se dão ao luxo de andar de bicicleta no meio do trânsito colocando em risco a própria vida, o que, entre nós, não tem nada a ver comigo, não tenho nada com isso, eles que se danem. Porque os caras da maconha não chamaram os motoboys? Esta é uma cidade em que dois motoboys, que trabalham usando as motos, morrem por dia. Duas mortes por dia. Os "cicloatistas" não falam do trabalhador que sai de madrugada do Grajaú e vai com sua bicicleta velha trabalhar em Santo Amaro porque não têm dinheiro para condução. Não, esse trabalhador não conta. O que conta é o passeio asseado de rapazinhos saradões, moças lindas, roupas coloridas e suas bicicletas, algumas importadas. É isso que vale. A cidade está cheia de ciclovias. Mas eles querem mais. A ponto de interromper em muitas noites o trânsito na avenida Paulista, dezenas deles, numa farra que não respeita ninguém. Se esta cidade tivesse autoridade isso não aconteceria. Como nem tem autoridade, cada um faz o que bem entende. Então eu quero sugerir ao senhor prefeito da cidade limpa de São Paulo que administre melhor essa questão. Por exemplo: os motoboys poderiam transitar pelas calçadas. Tem a turma do skate, que poderia andar como quisessem entre os carros, fazendo manobra espetaculares. A turma do triciclo poderia usar o canteiro central. A turma do patins poderia andar só sobre riscas brancas que separam as faixas das avenidas Tem também a turma do patinete. A turma do patinete poderia usar as guias. Já as pessoas que costumam usar as calçadas, iriam todas para a avenida, no meio dos carros, andando e conversando animadamente. Já a turma da bicicleta poderia usar as calçadas, as guias, as riscas brancas e os canteiros centrais, além de todos os espaços das avenidas. Eu acho que daria certo. Tenho certeza. Todos ficariam com seus direitos garantidos. Bem, e a minha turma? O que é que a minha turma poderá fazer ? A minha turma já resolveu: a gente vai na contramão.
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